YOGA ENERGÉTICO III - CHACRAS
- Gabriela Nanni
- 18 nov 2018
- 9 Min. de lectura

That which is below corresponds to that which is above, and that which is above corresponds to that which is below. The Emerald Tablet
Every breath is a sacrament, an affirmation of our connection with al other living things, a renewal of our link with our ancestors and a contribution to generation yet to come. Our breath is a part of life’s breath, the ocean of air that envelopes the Earth. David Suzuki
Imagine-se com um par de óculos que te permitem observar o movimento dos átomos, a atividade quântica e o fluxo da sua própria consciência: você está vendo o movimento do universo inteiro, dentro de você.
Toda a ciência védica baseia-se na premissa fundamental Upanishadica Yata Brahmande tata pindade: ‘Assim como é na consciência cósmica, da mesma forma é no corpo humano ‘. O corpo sutil mimetiza o universo exterior, nosso ser físico-material reflete nosso ser sutil. Ambos se unificam com o universo. O conhecimento védico concebe tudo o que existe em uma unidade, regido pelas mesmas leis: o mundo infinitamente grande, adhidaivika, o mundo infinitamente pequeno, adhyátmitka o mundo humano, adhibhautika, estão ligados entre si pela teoria das correspondências, ou bandhus, que considera que a estrutura da consciência possui paralelos com a realidade exterior. Nesse sentido, alguns tantras védicos definiram as categorias interiores do pensamento e a natureza da mente de acordo com o comportamento dos astros: sol, planetas e lua.
A partir do estudo da consciência e do processo cognitivo, os védicos afirmavam que a consciência, ao agir em si própria, poderia alcançar o conhecimento universal. O principio unificador foi chamado de Brahma, essência da existência: se define como satyasa satyam, bem aventurança e conhecimento; ánanda e prájna, ou satchitánanda: existência, consciência e bem-aventurança. O conceito de Brahma é utilizado para descrever a unidade essencial de todas as coisas. Assim, quando a consciência apreende o universo físico, participa da Unidade. E a consciência, atman, “é aquilo através do qual todo o universo pode conhecer-se” ( Mundaka Upanishad, I: 1,3).
CHACRAS
Chakras are organizing centers within the body for the receiving, processing, and distributing of life energies. Anodea Judith
Através dos tempos, as culturas espalhadas pelo mundo compreenderam que não somos unicamente compostos de matéria mundana, mas também de vibrações e frequências que interagem entre si e que, por sua vez, também reagem com o universo. Esse povos antigos já sabiam o que Einsten somente comprovou recentemente: a energia não pode ser destruída, ela somente muda de forma.
Existem incomensuráveis corpos energéticos em um organismo vivo. Cada célula e órgão dentro do corpo humano é composto de energia. Esse corpos energéticos recebem, decompõem, metabolizam e, finalmente, distribuem essa energia. Eles são orquestrados por diferentes frequências, que, em seguida, realizam uma tarefa equivalente para outros corpos energéticos. A maior diferença entre os órgãos físicos e órgãos energéticos sutis é que os órgãos físicos processam somente energia física enquanto que os órgãos energéticos sutis processam tanto a energia sutil quanto energia bruta (energia física).
A energia bruta é inconsciente, enquanto que a energia sutil é consciência pura. Corpos energéticos sutis são capazes de transmutar os diferentes tipos de energia; cada centro energético desempenha uma função especifica dentro da estrutura anatômica do sistema energético do corpo. Assim, estes centros conectam as diferentes partes do corpo entre si, o corpo com os cosmos, e todos os aspectos do ser – físico, emocional, mental e espiritual.
Many of the biochemical processes within the body involve exchanges of physical energy, but these grosser forms of energy are not what I take the terms healing energy and subtle energy to mean. Rather, the later are like the activity of a conductor of an orchestra or the choreographer of a ballet that integrates and coordinates into one cohesive movement all the bio-chemical and energy processes of the body.
F DAVID PEAT
Graças à sensibilidade intuitiva, os antigos místicos podiam descrever e trabalhar com corpos energéticos, corpos estes que se transformam, de matéria física em energia sutil, e vice-versa. E os chacras eram evidentemente o ponto central dessa conversão. Também chamados de centros energéticos ou órgãos energéticos, eles negociam energia física e energia sutil, transformando-as mutuamente. Trata-se de um sistema de energia e informação, e como fazem parte do corpo energético os chacras não podem ser vistos a olho nu. Somente pessoas extremamente sensitivas podem perceber os chacras, e, por esse motivo, as informações originais outrora registrada pelos antigos místicos (Indianos, africanos, egípcios, Sufistas-islâmicos, Dravidianos, Mayas, Incas, índios cherokees etc) podem ser comprovada nos dias de hoje.
Graças ao conhecimento que nos foi legado pelos povos antigos, todos nós podemos aprender a nos sintonizar com nossos canais de energia sutil.
Foi a tradição tântrica que transformou a abordagem dualística dos antigos textos hindus, que distingue espirito e matéria e segundo a qual os desejos terrenos devem ser renunciados para se alcançar a iluminação, em uma abordagem não dual que integra ambos, passando a considerar o corpo como o templo sagrado do espirito.
The practice of Trantra is about inner-transformation. The energy involved in the process, of tantric transformation is the energy of our own bliss. Prana Gogia
Segundo a visão tântrica, como vemos em Sat-Cakra-Nirupana e Padaka-Pancaka, os chacras são descritos como emanações da consciência de Brahma, o Divino, a energia espiritual que descende, passa pelo topo da cabeça e flui gradualmente se tornando denso, formando diferentes níveis de chacras, encontrando repouso em Muladhara, ou chacra base, na forma de Kundalini. Neste percurso, as diferentes formas de consciência são preservadas nos diferentes chacras. Cada chacra representa um nível diferente de consciência. Através da prática de Yoga, o indivíduo pode despertar a energia chamada Kundalini e esta pode então ascender para os chacras superiores a fim de alcançar novamente o estado superior de consciência. Em outras palavras, os chacras constituem a via que nos permite alcançar o estado de iluminação.
Kundalini é considerada de acordo com a filosofia hindu, a força ou poder – a consciência – que une os corpos energéticos, os canais energéticos (nadis), os três corpos de encarnação (corpo físico denso ou sthúla sharíra, o corpo sutil ou súkshma sharíra, o corpo causal ou karana sharíra) e os koshas(camadas ou véus que confinam o espirito ou a essência, cujo despertar ocorre gradualmente nessa ordem: físico, mental, espiritual e energético ).
Lembremos que a narrativa da Kundalini, é uma narrativa sobre os Deuses, os Deuses que habitam em cada um de nós. É uma narrativa de 4 mil anos, que conta o despertar da nossa energia feminina e masculina e sua transcendência para além do nosso corpo físico. No inicio era somente uma força que unia tudo. Dentro da consciência existiam dois seres, Shiva, a suprema consciência infinita, que representa o tempo, e Shakti, a eterna consciência suprema, que representa o espaço. É o Yang na medicina oriental, aqui representado na figura de Shiva, e o Yin, na figura de Shakti. Estes dois seres separados, criam a distinção entre matéria e consciência. Shakti repousa em cada um de nós, enrolada em nosso chacra base na forma de serpente, Kundalini Shakti, ou o “poder adormecido”. Porém, Shakti somente se manifesta quando se move através das camadas mais densas do corpo, e vai ao encontro do seu grande amor, Shiva, que habita o sétimo chacra. Uma vez unidos, a consciência suprema se manifesta.
Numa versão um pouco menos romântica, a ciência também confirma essa narrativa. Cientificamente, o universo pode ser reduzido em duas palavras: frequência e vibração. Somos todos compostos de energia feminina e masculina, elétrica e magnética. Se adquirimos o equilíbrio entre cada uma dessas energias, nos harmonizamos, e consequentemente, nos curamos. Portanto, seguir a via da Kundalini não implica unicamente alcançar o estado de iluminação, mas também em curar mente, alma, corpo e espirito.
A visão ocidental mais aceita acerca do chacras foi desenvolvida por Arthur Avalon, uma autoridade reconhecida em Tantra Yoga. Esse autor, baseado no sistema hindu, considera os chacras (7 no total) como assentos ( padmas ou lotuses no corpo) da consciência.
Os centros sutis estão localizados no nadi (canal) central, sendo estes nadis ou canais, responsáveis pela condução da energia sutil. Esses canais conectam os chacras com o corpo físico. Eles convertem prana, ou energia sutil, purificando o corpo físico e convidam a Kundalini a subir, abrindo os chacras. Os nadis primários envolvidos no processo da ascensão da Kundalini são Sushuma, ou nadi central, localizado ao longo da coluna; Ida, que representa a energia feminina, localizado do lado esquerdo da coluna; e Pingala, que representa a força masculina, localizado do lado direito da coluna. A medida que a kundalini ascende através do Sushuma, Ida e Pingala – enrolado em volta do núcleo de cada chacra – vai ativando os chacras, resultando numa continua ascensão da Kundalini.
Na visão hindu, na qual Avalon se baseia, os chacras podem ser comparados com programas de computador, e estão relacionados respectivamente com a segurança (Muladhara), sexualidade (Svadhistana), poder (Manipura), amor (Anahata), comunicação (Vishudda), intuição (Ajna) e autoconhecimento (Sahasrara). Os chacras podem afetar diretamente nossa saúde, nossas emoções, nossos pensamentos e nosso comportamento de forma positiva ou negativa. Já que é sede da troca energética entre mente-corpo-espirito e que cada órgão do corpo humano tem seu correspondente no nível espiritual e mental, cada chacra corresponde a um aspecto especifico do desenvolvimento e comportamento humanos.
Os primeiros chacras, situados na parte inferior do corpo, vibrando em baixas frequências e densos por natureza, estão associados às nossas necessidades e emoções básicas. Já as energias mais sutis – alta frequência e densidade leve – dos chacras superiores estão associadas a nossas aspirações espirituais e mentais superiores.
Cada chacra influencia o corpo em níveis físicos, emocionais, mentais e espirituais. Cada corpo energético vibra em sua própria frequência e oscila em sua própria velocidade. Quanto mais baixo o chacra está situado no corpo, menor a vibração; quanto mais alto, maior a vibração. Os chacras vibram de dentro para fora, irradiando informações através da pele. Eles também atraem informações de fora para dentro do corpo, transformando-as para em seguida assimilá-las.
Os chacras são comumente associados com aspectos da consciência ou outro tema maior, uma cor, um elemento, um som, uma lótus (com diferentes quantidades de pétalas) e sua interação com aspectos físicos, emocionais, mentais e espirituais do ser humano. Segundo a visão ocidental, cada chacra é também associado a uma parte do corpo, a um determinado órgão e a uma glândula do sistema endócrino, esta última responsável por secretar hormônios que atuam como mensageiros químicos auxiliando nas funções especificas de cada chacra.
A interpretação do trabalho de Avalon foi feita posteriormente por Anodea Judith, que adiciona informações complementares sobre os aspectos psicológicos dos chacras. Esta autora vê nos chacras um instrumento que nos permite criar bases sólidas para nossas vidas, onde cada chacra ou centro energético é um receptor que assimila, processa e nos permite expressar a força vital que recebemos do Universo. Os chacras são responsáveis por armazenar essa energia e manter-nos vivos. Anodea Judith propõe uma prática de yoga baseada nos chacras cujo o objetivo é abrir cada centro energético para que as trocas energéticas possam acontecer de forma equilibrada. Ela acredita que devido às circunstâncias e ao nossos hábitos de vida podemos apresentar um desequilíbrio energético, armazenando energia demais (excessive), ou, ao contrário, nossos centros energéticos se encontram inaptos para armazenar essa energia (deficient). Essa autora vê além do aspecto individual que o equilíbrio dos chacras pode proporcionar, e acredita que, ao trazermos equilíbrio para nossos chacras, toda a humanidade pode ser influenciada; ao nos modificamos por dentro, trazendo equilíbrio para os chacras, o mundo a nossa volta também é beneficiado.
The purpose of chakra-based yoga is to discover the keys to opening each chamber in your inner temple and awaken the Divine within. Your consciousness is the driver that will guide the way. The practices contained herein the keys. Yoga provides the path. The chakra system the map. Anodea Judith
Carl Jung integrou os conceitos espirituais orientais às teorias psicológicas ocidentais. Inspirado na visão tântrica, para ele, os chacras se desenvolvem desde a concepção e à medida que crescemos fisicamente, emocionalmente e espiritualmente. Assim, para ele os chacras seriam como degraus – começando pelo chacra base, passando pela expressão da nossa energia individual e finalmente nos conectando à nossa fonte de energia – para alcançarmos nossa individuação, que, na psicologia de Jung, caracteriza o processo para se tornar um ser único, de singularidade profunda, em sintonia com nossa essência. Jung via nos chacras um sistema de despertar psico-espiritual, tendo vislumbrado nos diferentes estágios de desenvolvimento psíquicos e arquetípicos a expressão desse sistema.
A Psicologia Oriental denomina centros de consciência os pontos em que o mundo interior e exterior se encontram, por isso podemos dizer que cada centro psíquico nos quais nos tornamos conscientes dessa penetração emocional torna-se a sede da alma e pela ativação desses centros nos espiritualizamos e transformamos nosso corpo. Jung.C.G. (O círculo Hermético)
Existiria igualmente, segundo Jung, um outro sistema psíquico de natureza coletiva, universal e impessoal, idêntica em todos os indivíduos. Esse inconsciente coletivo, de natureza genética, não se desenvolveria individualmente, mas seria transmitido através dos tempos, de cultura para cultura.
De acordo com Jung, a grande maioria das pessoas concentraria o nível de suas atividades principalmente nos centro energéticos inferiores (agressividade, pulsão sexual e egocentrismo). A passagem dos centros inferiores para os centros superiores, em termos psicológicos, é conhecido como o “deixar ir, desapego, abandono”, ou seja, uma atitude mental caracterizada pelo desprendimento, o relaxamento interno, a lucidez em relação aos eventos externos, o apaziguamento das tensões causadas pelas frustrações e o desenvolvimento do espirito de cooperação. Para Jung, o despertar da Kundalini ou energia vital envolveria níveis mais profundos (em relação a consciência ordinária de vigília) do ser, através do movimento do ser inconsciente. Não se trata de uma construção artificial do humano em partes isoladas, mas de um sistema integrado que age em sinergia com outros subsistemas.
Na visão tântrica, sabemos que cada chacra tem influência sobre os outros: os três primeiros centros podem frear a evolução do ser humano, mas asseguram a sua sobrevivência, enquanto que os quatro centros superiores tendem a acelerar o processo evolutivo. A subida da kundalini se realiza de maneira progressiva graças a compreensão e ao desprendimento da dualidade característica de cada chacra. A kundalini passa pelos chacras, que comportam cada um deles seu próprio arquétipo e simbolismo, até o sétimo chacra. Ao chegar nesse estágio, o praticante desenvolve uma compreensão holística de si mesmo e de sua ação (dharma), sua consciência é ampliada e suas percepções tornam-se mais aguçadas. O indivíduo passa a desenvolver novos esquemas de comportamento, mais focados na na psique humana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- THE SUBTLE BODY, an Encyclopedia of your Energetic Anatomy, by Cyndi Dale;
- CHAKRA YOGA, by Anodea Judith;
- O CíRCULO HERMÉTICO, by CarL Jung.
Comments